Dança de egos

Café das sete
3 min readDec 19, 2022

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Imagem de Petro Tapa — não foi feita para o texto

Eu apaixonada e ele apaixonante. Vi uma mechinha de cabelo que passeava na nunca e ele via meu olho verde que gritava na cara. Lá atrás da nuca ninguém vê, só quem quer vê, na cara é vista rápida; e você me dizia todas vezes “linda”, eu me perguntava porque?

Eu queria horas de sexo e presença e ele se contentando com uma punheta, gozar e ir embora. Eu querendo gozar, fumar e permanecer ali por horas. Deitada e pelada contemplando o teto num estado flutuante de prazer. Sentindo o quente da sua pele encostando na minha.

Eu querendo devora-lo com milhares de perguntas até as que doíam em mim, porque a dor faz parte. E ele me inqueitando com perguntas que me deixavam ali no prato exposta a moscas sem ser devorada. Era tudo simples demais pra ele e intenso demais pra mim. Será essa uma constante minha?

Eu brincando com o meu e com o seu ego. E vc gozando e pesando em outra. Eu enxergando vc e seu ego e vc enxergando só o seu ego, mas achando que enxergava o meu. Eu pronta pra ser colhida e vc passando direto sem ver o pé carregado. Eu partida no meio por você e você me dizendo q eu fui demais. Mesmo que eu tenha avisado que o meu demais não é o do sentido dado, é o do advérbio.

Eu me dando permissão de me apaixonar. E a coragem de me abrir. E você me dando o domingo, aquelas horas que não tinha mais nada pra fazer. Eu sem lista de sexo porque queria transar com ninguém mais do que você e você voando aos prazeres rasos se enxendo de gozo casual, enquanto tenta encontrar coragem pra buscar o que acha ser seu caminho real.

Você me perguntou mais de uma vez o que vi em vc.

Eu soube mais de uma vez q vc não me viu.

Eu vi em vc paixão, questionamentos, inquietação, entropia latente e afeto, liberdade de sentir e querer liberar o outro pra gritar, me provocava e incontrolavelmente me colocar a sentir. Vc via meu ego. Narcísica, como disse mais de uma vez. Alguns dias isso me deixou pensativa: o que isso significava? Afinal, esse descontentamento com a palavra era porque tinha lá sua relação de verdade. Narcisista eu? Será?

Eu lembrei q tivemos por nós beijar e alimentarmos nosso ego, ambos os egos, só por um mês, nosso janeiro, MEU janeiro. Eu me vi, vc se viu. Eu me apaixonei pelo q vi e vc viu q era melhor não. Eu fiquei, com meu olhar. E vc se foi sem abrir o olhos e me enxergar de verdade. E tudo bem …

Me parece injusto que eu tenha que ficar com a conta final do ego inflado. Quando estava lá de quatro querendo mais e só tinha eu ali. Eu me apaixonei pelo que vi em vc, na verdade era eu. E talvez isso seja mesmo narcísico, mas, me parece sacanagem que o espelho aqui seja só o meu.

Nessa dança de egos que vc me convidou, eu me joguei e intensamente brinquei. Dancei. Vc lá no alto me via lá em baixo e apontava o indicador, eu só queria lamber o teu polegar e mergulhar no seu Eu. E vc me julgava, mas eu me pergunto se vc desceu do seu próprio ego pra eu ter onde transbordar? E aí, fica muito EU de fato, mas no fundo eu queria muito de VC e não tive.

Numa narrativa que existe muito a palavra “EU” me pergunto se tô muito ligada em mim mesma realmente ou se faltou você se colocar pra eu ter onde me cessar?

e não tenho resposta.

Me apaixonei e nem gozei, a vida é mesmo um baile.

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Café das sete
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Written by Café das sete

Por Helena Merlo. MUITOS erros de digitação pq eu escrevo na fritação do sentimento! CATARSE. "A arte é uma confissão de que a vida não basta" F.Pessoa

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